30 outubro 2017

sophia de mello breyner andresen / homenagem a ricardo reis



I
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
  Oferecendo a flor
                Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
                Não existe piedade
                Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
                Longo indelével rasto
                Que o não vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
                Vai sempre mais à frente
                Do que o teu próprio passo.



sophia de mello breyner andresen
dual
caminho
2004







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