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13 julho 2017

césar vallejo / altura e cabelos




     Quem não tem o seu vestido azul?
Quem não toma o pequeno almoço e não apanha o eléctrico,
com seu cigarro contratado e sua dor de bolso?
Eu que apenas nasci!
Eu que apenas nasci!

     Quem não escreve uma carta?
Quem não fala de um assunto importantíssimo,
morrendo de costume e chorando de ouvido?
Eu que somente nasci!
Eu que somente nasci!

     Quem não se chama Carlos ou qualquer outra coisa?
Quem ao gato não chama gato gato?
Ai,que apenas eu nasci somente!
Ai, que apenas eu nasci somente!




césar vallejo
antologia poética
poemas póstumos I
trad. josé bento
relógio d´água
1992 




15 dezembro 2012

césar vallejo / os passos remotos




O meu pai dorme. O seu nobre semblante
é como um coração apaziguado;
está tão doce agora...
se há nele algo de amargo, serei eu.

Há solidão na casa; e reza-se;
e dos filhos não houve hoje notícias.
Meu pai acorda, considera
a fuga para o Egipto e um suspenso adeus.
Está agora tão perto;
se há nele algo distante, serei eu.

E minha mãe passeia além na horta,
saboreando um sabor já sem sabor.

Está agora tão suave,
tão longínqua, tão amorosa e nítida.

Há solidão no lar sem reboliço,
sem notícias, sem verdes criancices.
E se há algo quebrado nesta tarde
que diminui e crepita
são dois velhos caminhos brancos, curvos.

A pé, por eles vai meu coração.




césar vallejo
tradução de nicolau saião