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06 julho 2020

e e cummings / xix poemas



[xii]

esta pequena noiva & noivo estão
de pé)numa espécie
de coroa ele vestido
de açúcar preto ela

velada de açúcar branco
levando um bouquet de
flores artificiais esta
açucarada coroa com esta açucarada

pequena noiva & pequeno
noivo nela espécie de estar sobre
um fino anel que está sobre um muito
menos fino muitíssimo mais

largo & mais espécie de anel & cujo
mais espécie de está sobre um
muito mais que muitíssimo
larguíssimo & grossíssimo & especiíssimo

de anel & todos um dois três anéis
são de bolo & tudo protegido com
celofane contra seja o que for(porque
nada realmente existe




e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998





20 dezembro 2019

e e cummings / avança um pouco



XLVIII

avança um pouco – porquê o medo –
aqui está a vespertina estrela (tens um desejo?)
toca-me
antes de perecermos
(crê que nada do que foi
inventado pode estragar isto ou este instante)
beija-me um pouco:
o ar
escurece e está vivo –
oh vive comigo na rareza de
estas cores;
que só ligeiramente
sempre estão fora de alcance da morte

e em inglês




e. e. cummings
trad. ana hatherly
hífen 5 março
cadernos semestrais de poesia
tradução
1990






16 julho 2019

e e cummings / xix poemas



[xi]

“fundemos uma revista

que se lixe a literatura
queremos uma coisa com sangue na guelra

piolhosa com pura
fedendo com absoluta
e determinadamente obscena

mas deveras limpa
estão a ver
não estraguemos a coisa
façamos a coisa a sério

qualquer coisa de autêntico e delirante
percebem qualquer coisa de genuíno como uma marca
numa retrete

agraciada com gana e esganada
com graça”

apertem os tomates e abram a cara



e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998





07 maio 2019

e e cummings / xix poemas



[x]

ele não tem que sentir porque pensa
(os pensamentos de outros,entenda-se)
Ele não tem que pensar porque sabe
(que tudo é mau o que tu pensas bom)

porque sabe,ele não pode entender
(por que o Jones não me paga o que ele sabe que deve)
porque não pode entender,ele bebe
(e bebe e bebe e bebe e)

não calvo. (Tosse) Dois olhos pequenos pálidos e manhosos

equilibrados sobre um beicinho quebrado
(dentes lindos eram para dentro do que e fora
de) Vida,encerrais Vós uma maravilha que
esta morte de nome Smith menos estranha?
                                                                               Casado e mente


Assustado;agressivo e:Americano



e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998






21 janeiro 2019

e e cummings / xix poemas




[viii]

algures aonde eu nunca viajei, alegremente além de
qualquer experiência, os teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que eu não posso tocar tão próximas que estão

o teu infinito olhar há-de facilmente desprender-me
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) primeira rosa

mas se teu desejo for encerrar-me, eu e
minha vida fecharemos em beleza, de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;

nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento

(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre, apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profundos que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos





e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998







16 janeiro 2018

e e cummings / xix poemas



[v]

a minha velha querida etcetera
tia lúcia durante a última

guerra podia e o que
é mais disse-te precisamente
pelo que toda a gente estava

a lutar,
minha irmã

isabel produziu centenas
(e
centenas) de peúgas para não
mencionar camisas gorros à prova de pulga

etcetera meias-luvas etcetera, minha
mãe esperava que

eu morresse etcetera
corajosamente é claro meu pai costumava
enrouquecer ao falar de como era
um privilégio e se ao menos ele
pudesse entretanto eu

mesmo etcetera jazia tranquilamente
na lama funda et

cetera
(sonhando,
et
    cetera, com
Teu sorriso
olhos joelhos e tua Etcetera)




e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998








05 junho 2017

e e cummings / há pouquíssimo tempo



50.
há pouquíssimo tempo,
isto é, uma vida,
ao caminhar no escuro
encontrei-me com cristo

jesus) o meu coração
saltou-me do peito
e ficou quieto
enquanto ele passava (tão

perto como eu estou de ti
sim, mais perto
feito de nada
excepto de solidão



e e cummings
antologia de poesia anglo-americana
de chaucer a dylan thomas
trad. antónio simões
campo das letras
2002




15 fevereiro 2016

e e cummings / soneto



Não será sempre assim… Quando não for,
Quando teus lábios forem de outro; quando
No rosto de outro o teu suspiro brando
Soprar; quando em silêncio, ou no maior

Delírio de palavras desvairando,
Ao teu peito estreitares com fervor;
Quando, um dia, em frieza e desamor
Tua afeição por mim se for trocando:

Se tal acontecer, fala-me. Irei
Procurá-lo, dizer-lhe num sorriso:
«Goza a ventura que já gozei.»

Depois, desviando os olhos, de improviso,
Longe, ah tão longe, um pássaro ouvirei
Cantar no meu perdido paraíso.



e. e. cummings
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
tradução de manuel bandeira 
assírio & alvim
2001



29 outubro 2015

e e cummings / junto a com certeza deus américa eu


[iv]

“junto a com certeza deus américa eu
amo-te terra dos peregrinos e assim por diante oh
olhai podeis ver pela alva madrugada o meu
país é de séculos vêm e vão
e não voltam mais e daí? ninguém se rala
em todas as línguas até surdosmudos
teus filhos aclamam teu nome glorioso gaita
caraças caramba chiça chô
pra quê falar de beleza o que é que podia ser mais be-
lo que estes heróicos finados felizes
que lançados como leões para a chacina ruidosa
não pararam para pensar morreram pelo contrário
há-de então a voz da liberdade ser muda?”

Falou.  Bebeu rapidamente um copo de água



e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998




23 maio 2015

e e cummings / a minha miúda é alta e de olhos duros e longos


[iii]

a minha miúda é alta e de olhos duros e longos
assim de pé, com suas longas e duras mãos guardando
silêncio no seu vestido, bom para dormir
é o seu longo e duro corpo cheio de surpresas
qual branco arame electrificado, quando sorri
um duro e longo sorriso isso às vezes faz
crescer alegremente em mim ardentes comichões,
e o frágil ruído dos seus olhos facilmente aguça
a minha impaciência até à ponta ─  a minha miúda é alta
e tesa, com pernas finas tal qual uma trepadeira
que passou a vida inteira num muro de jardim,
e vai morrer. Quando carrancudos vamos para a cama
com estas pernas começa a lançar-se e a enroscar-se
à minha volta, e a beijar-me o rosto e a cabeça.


e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & Alvim
1998




30 janeiro 2015

e e cummings / supõe



[ii]

supõe
a Vida um velho carregando flores à cabeça.

a jovem morte sentar-se num café
sorrindo, uma moeda segura entre
o polegar e o indicador

(eu digo “comprará flores” para ti
e “a Morte é jovem
a vida usa calças de veludo
a vida tropeça, a vida tem barbas” eu

digo para ti que estás emudecido. - “Vês
a Vida? está ali e aqui,
ou aquilo, ou isto
ou nada ou um velho 3 terços
adormecido, à cabeça
flores, sempre a gritar
para ninguém alguma coisa sobre les
roses les bluets

          sim,
                 comprará?
Les belles bottes - oh escuta
, pás chéres”)

e o meu amor lentamente respondeu Eu acho que sim. Mas
Eu acho que vejo alguém mais

há uma senhora, cujo nome é Emseguida
está sentada junto da jovem morte, é esguia;
gosta de flores.


e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998





19 março 2014

e e cummings / em tempo de narcisos(que sabem


[xviii]

em tempo de narcisos(que sabem
o sentido da vida é crescer)
esquecendo porquê,recorda como

em tempo de lilases que proclamam
o desígnio da vigília é sonhar,
recorda assim(esquecendo parece)

em tempo de rosas(que assombram
o nosso agora e aqui com o paraíso)
esquecendo se, recorda sim

em tempo de todas as doçuras para além
do que quer que a mente possa entender,
recorda busca(esquecendo acha)

e num mistério a haver
(quando o tempo do tempo nos livrar)
esquecendo-me, recorda-me



e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999




23 dezembro 2013

e e cummings / quando o cabelo cai e os olhos se turvam



quando o cabelo cai e os olhos se turvam. E
as coxas esquecem (quando os relógios sussurram
e a noite grita) Quando as mentes
se enrugam e os corações se tornam mais frágeis a cada
Instante (quando numa manhã a Memória se levanta,
com desajeitados e murchos dedos
vertendo a cor da juventude e o que foi
num copo sujo) Poções para as Indisposições
(uma receita contra o Riso a Virgindade a Morte)


então querida o
modo como as árvores se Fazem em folhas
as Nuvens abertas tomam o sol as montanhas
permanecem E os oceanos Não dormem não interessa
nada; então (então as únicas mãos por assim dizer são
aquelas sempre que rastejam devagar sobre qualquer
rosto numerado capaz do maior inexpressivo olhar do
menor sisudo sorriso
ou do que quer que seja que as ervas sintam e os peixes
pensem)



e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999



29 setembro 2013

e e cummings / as horas levantam-se



as horas levantam-se despindo-se de estrelas e é
o amanhecer
na rua do firmamento a luz caminha espalhando poemas

sobre a terra uma vela é
apagada                a cidade
desperta
com uma canção sobre a
boca tendo a morte nos olhos

e é o amanhecer
o mundo
sai para assassinar sonhos...

vejo a rua onde vigorosos
homens se alimentam de pão
e vejo os brutais rostos de
pessoas contentes hediondas desalentadas cruéis felizes

e é dia,

no espelho
vejo um frágil
homem
sonhando
sonhos
sonhos no espelho

e é
o anoitecer            sobre a terra

uma vela é acesa
e está escuro.
as pessoas estão em casa
o frágil homem está na cama
a cidade

dorme com a morte sobre a boca tendo uma canção nos olhos
as horas descem,
vestindo-se de estrelas....

na rua do firmamento a noite caminha espalhando poemas


e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999



24 agosto 2013

e e cummings / já que sentir é primeiro



[vi]

já que sentir é primeiro
quem presta alguma atenção
à sintaxe das coisas
nunca há-de beijar-te por inteiro;

por inteiro ensandecer
enquanto a primavera está no mundo
o meu sangue aprova,
e beijos são melhor fado
que sabedoria
senhora eu juro por toda a flor. Não chores
- o melhor movimento do meu cérebro vale menos que
o teu palpitar de pálpebras que diz

somos um para o outro: então
ri, reclinada nos meus braços
que a vida não é um parágrafo

e a morte julgo nenhum parêntesis



e. e. cummings
xix poemas
trad. jorge fazenda lourenço
assírio & alvim
1998



23 junho 2013

e e cummings / que o meu coração esteja sempre aberto



que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu como um sorriso



e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999



06 abril 2013

e e cummings / búfalo bill


  

"Búfalo Bill stá
defunto
o que andava
num cavalo
de prata como a água corrente
e matava umdoistrêsquatrocinco gajos assim sem mais Deus meu
era um belo homem
e o que eu quero saber é
se gostas do teu rapaz de olhos azuis
Dona Morte"




e e cummings
búfalo bill stá
trad. jorge de sena


18 fevereiro 2013

e.e. cummings / a lua esconde-se no




a lua esconde-se no
cabelo dela.
O
lírio
do céu
cheio de todos os sonhos,
desce.

encobre a sua brevidade em canto
cerca-a de intricados débeis pássaros
com margaridas e crepúsculos
Aprofunda-a,

Recita
sobre a sua
carne
as pérolas

da chuva uma a uma murmurando.



e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999



06 maio 2012

e.e. cummings / a função do amor é fabricar desconhecimento






a função do amor é fabricar desconhecimento

(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto, os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
─ -o medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham, criam e matam
enquanto o todo se move; cada parte permanece quieta:




e.e. cummings
livrodepoemas
trad. cecília rego pinheiro
assírio & alvim
1999